Entrevista à Associação de Pensionistas, Reformados e Aposentados de Pombal (APRAP)
Para dar continuidade ao nosso projeto “Organizações que respiram”, dando o nosso contributo para uma maior divulgação das organizações e instituições que contribuem decisivamente para o bem-estar comum, hoje, decidimos falar com uma das organizações com uma intervenção indiscutível no envelhecimento ativo do concelho de Pombal, a Associação de Pensionistas, Reformados e Aposentados de Pombal (APRAP).
Apresentação do Convidado
A APRAP nasceu da vontade de um pequeno grupo de pessoas amigas, que após a passagem à reforma, sentiram necessidade de ocupar o seu tempo levando por diante algumas iniciativas de âmbito cultural e social.
Assim, em 1998, surgiu a APRAP sendo um espaço onde estes amigos se reuniam, onde conviviam, organizavam algumas atividades culturais, passeios e também participavam em encontros com outros seniores, conseguindo assim combater a solidão, o isolamento, promover a integração social, criar novas amizades, promover a autonomia fomentando um envelhecimento ativo e saudável.
A APRAP é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que desenvolve atividades de apoio à população idosa, nomeadamente Centro de Dia (CD), Centro de Convívio (CC), Universidade Sénior (US) e Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). Considerando a evolução demográfica da freguesia de Pombal, o SAD tem vindo a ter cada vez maior solicitação, porém, existe ainda uma parte da população que não possui condições financeiras para aceder a este serviço.
É uma instituição de referência na nossa freguesia, pela sua caminhada, pela luta diária na procura constante de respostas, na tentativa de lutar e contrariar alguns obstáculos que encontra ao longo do seu caminho.
Connosco temos o Presidente Vítor Frade e a Diretora Técnica Susana Junqueira a quem desde já agradecemos por terem aceite o nosso convite.
Entrevista
Gescar: Antes de mais, gostaria de perguntar ao Presidente como define o trabalho da Instituição a que preside e de que forma este impacta com a comunidade?
APRAP: O nosso trabalho na APRAP passa por receber os utentes, tratá-los com dignidade e oferecer as melhores condições possíveis. No fundo, posso dizer que estamos a praticar um bem-estar social e tentamos ao máximo e dentro das nossas possibilidades melhorar todos os dias, de forma a irmos ao encontro das necessidades dos nossos utentes.
Gescar: Uma das valências da APRAP é a Universidade Sénior, podem explicar-nos em que consiste a mesma?
APRAP: A Universidade Sénior de Pombal, nasceu em 2007, sendo que o objetivo da mesma passa por oferecer uma resposta socioeducativa, de ensino, de cultura, convívio e de desenvolvimento social para uma faixa etária acima dos 55 anos.
Basicamente, a Universidade é vocacionada para a ocupação de tempos livres dos indivíduos que se sintam motivados para a aprendizagem constante de diversas matérias teóricas e práticas, adquirindo conhecimentos em múltiplas áreas, como: línguas, artes, ciências sociais, saúde, informática, música, internet, dança, ioga, tendo ainda a oportunidade de participação em atividades como o Coro da USP, ginástica, conferências, visitas de estudo, entre outras atividades.
Este projeto reúne centenas de alunos e destina-se a todos os pombalenses com mais de 55 anos, que se encontrem em situação de reforma, desemprego ou ainda no mercado de trabalho, desde que reúnam condições de aptidão física e psíquica adequadas às atividades a que se propõem. Assim, o nosso propósito passa por combater a solidão, o isolamento e a exclusão social, de forma a proporcionar melhor qualidade de vida e bem-estar na comunidade sénior do concelho de Pombal.
Atualmente, temos uma recetividade muito grande, sendo que, o ano passado tivemos à volta de 170 inscrições.
Para ministrar as disciplinas e atividades que disponibilizamos aos nossos alunos, a USP tem ao seu dispor vários docentes que, na sua grande maioria, se encontram em regime de voluntariado.
As aulas decorrem de segunda a sexta-feira entre as 14h e as 18h e, por norma, decorrem na universidade sénior ou no centro escolar.
Gescar: Quais as principais dificuldades que identifica no quotidiano do funcionamento da Instituição?
APRAP: A principal dificuldade da Instituição prende-se com a sua situação financeira. O facto de não determos acordo de cooperação com a Segurança Social para o apoio domiciliário, isto é, não termos comparticipação (ao invés do que acontece com outras IPSS a operar na freguesia de Pombal) dificulta bastante a nossa situação, refletindo-se no reduzido número de utentes e no modo como conseguimos fazer face aos custos da atividade.
As Instituições que possuem acordo de cooperação com a segurança social conseguem trabalhar de outra forma, através do subsídio que recebem do Estado praticam preços que permitem ganhar mais por utente com gastos semelhantes aos nossos. Em consequência atraem um maior número de utentes beneficiando da diluição da parte dos custos que é fixa em função do número de utentes servidos. Na APRAP temos um valor fixo para a prestação dos nossos serviços, independentemente, se o utente tem recursos económicos ou não, o que faz com que a maior parte das pessoas que necessitam do serviço não consigam independentemente da qualidade oferecida aceitar a nossa proposta.
Gescar: Na vossa opinião qual considera que seria a solução para atenuar este problema?
APRAP: A solução passa por conseguirmos ter acordo de cooperação com a Segurança Social, visto que trabalhamos de forma semelhante aos nossos concorrentes. Os utentes poderiam fazer as suas escolhas sem restrições e, neste caso, colmataríamos uma boa parte do nosso problema.
No entanto, já realizámos candidatura à Segurança Social, neste caso ao PROCOOP, mas não fomos contemplados, há sempre alguém que fica para trás, visto que há mais procura do que oferta.
Gescar: Como é que a Instituição gera as suas receitas?
APRAP: A Instituição gera as receitas através das quotas dos sócios (que não são muitas), com as avenças dos utentes e através de algumas atividades que realizamos ao longo do ano. No entanto, o lucro que obtemos é irrisório.
Gescar: A Instituição conta com voluntários? Como funciona a captação dos mesmos?
APRAP: Basicamente, apenas a USP conta com voluntários. Ou seja, as restantes valências que dispomos não se mostram ser muito apelativas para o voluntariado, normalmente, as pessoas preferem fazer voluntariado na área da infância.
Gescar: O que diriam a uma pessoa que pretenda ser voluntária na Instituição?
APRAP: Caso tenham interesse em realizar voluntariado na APRAP, informamos que ao nível do centro de dia, estamos abertos nos dias úteis das 9h às 18h. Neste momento, necessitamos de voluntários, principalmente, para a área de animação, que é onde temos mais carência, sendo que os restantes serviços diários estão assegurados.
No entanto, mesmo que tivéssemos um animador, vir alguém reforçar esta área será sempre uma mais valia para os nossos utentes, para acompanhá-los no dia-a-dia, fazer atividades com eles, levá-los a passear, entre outras. Assim, caso tenham interesse não hesitem em nos contactar ou venham ter connosco às nossas instalações, estamos recetivos para receber qualquer tipo de apoio, qualquer ajuda é sempre bem-vinda.
Gescar: Referiram que uma percentagem das receitas advém das quotas dos sócios, como se desenrola a captação dos mesmos?
APRAP: A captação de sócios é feita, principalmente, através do boca-a-boca e nas nossas redes sociais, no entanto, o nosso leque de sócios ainda é escasso e ambicionamos alargar o mesmo. Ou seja, um dos nossos planos futuros será oferecer aos nossos sócios ainda mais vantagens, principalmente, através de parcerias com outras entidades.
Importa referir que, uma das vantagens dos nossos sócios é que têm prioridade no acesso a qualquer uma das nossas respostas sociais.
Gescar: Quais os planos futuros da Instituição? Há algum projeto ou ação que estejam a planear ou que já esteja em curso?
APRAP: Nós intenções temos boas, no entanto, sem capacidade financeira torna-se difícil colocar ideias e ações em curso. No entanto, gostaríamos de oferecer outro tipo de atividades aos nossos utentes, nomeadamente, na área da animação.
Gescar: Se tivessem oportunidade de gerir a pasta da Solidariedade Social com orçamento ilimitado, quais as medidas prioritárias que tomaria?
Vitor: Contrataria alguém para ficar responsável em perceber junto das Instituições quais os principais problemas existentes e que afetam o bom funcionamento das mesmas, para apoiar o combate aos mesmos. Considero que é crucial ter uma base financeira sólida e sustentável para conseguirmos progredir.
Susana: Se eu tivesse o poder sobre a tutela tentaria capacitar mais as Instituições ao nível das respostas sociais voltadas para o envelhecimento ativo e para o apoio às famílias. Isto, porque considero que as famílias neste momento têm carência de apoio social e acho que as Instituições são as respostas que o Estado criou para estar mais próximo das famílias. Por outro lado, há carência de apoios voltados para o envelhecimento ativo, à semelhança das Universidades Seniores, deveriam ser criadas respostas mais dinâmicas que mantivessem as pessoas nos seus domicílios. Para isso, seria importante personalizar melhor o apoio domiciliário com uma equipa técnica, mais capaz de acompanhar as pessoas nas suas casas, sendo que deveriam ser equipas mais multidisciplinares, com mais técnica ao nível da fisioterapia, da psicologia, assistentes sociais, que acompanhassem diariamente as pessoas nos seus domicílios de forma a retardar a ida das mesmas para as instituições.
Gescar: Qual a mensagem que gostaria de transmitir às pessoas e empresas da comunidade?
APRAP: Na minha opinião, há um desinteresse muito grande por parte da sociedade civil, por questões relacionadas com o envelhecimento. Neste momento, existem imensas coisas antigas que estão na moda como carros antigos, mas não os idosos. As pessoas não estão muito recetivas a esta faixa etária e aos problemas adjacentes a ela. Importa referir que, qualquer um de nós tem ou vai ter um idoso em casa e não há familiaridade com as questões que o envelhecimento traz, designadamente, a dependência. A comunidade deveria preocupar-se mais com esta questão e com as Instituições que cuidam dos idosos, porque “amanhã” vão precisar delas. Há alguns anos atrás, cheguei a dar formação na Gescar e havia algumas formandas que estavam lá porque um dia iam ter os pais mais idosos e iriam precisar de conhecer a temática para melhor poderem cuidar. No dia a dia nós estamos muito voltados para a parte material, para as férias, para a qualidade de vida, mas sem os idosos. Deveríamos preocuparmo-nos mais com a questão da integração dos idosos, por exemplo, ir de férias e levar o idoso, ir buscá-los ao centro de dia e levá-los a passear, isto é importante, e a forma de pensar devia de mudar.